segunda-feira, 25 de maio de 2009

PÁGINAS ABERTAS

Foto de Elaine Vallet


Entraste no meu livro e percorreste-o página a página. O teu perfume foi ficando espalhado pelas palavras e o teu prazer de descobrir gravado nos espaços que as separam. Foi tão ansioso o teu espraiar que eu próprio te li parágrafos passados, te dei a mão para visitares comigo memórias há muito arrumadas. Abri páginas antigas ao sentir a tua vontade de as ler. Trouxeste sol às minhas palavras cinzentas. Transformaste em rio as minhas emoções desérticas. Abrimos estradas para aproximar sentires. Fizeste crescer palavras que escrevi. Alagaram-se de prazeres as páginas em que te passei a compor. Tornaste-te semente e fruto. Lágrimas regaram novos vocábulos. O teu olhar deixou de ser leitor para se converter em actor do que escrevi. Despontou o Verão em inúmeras linhas frias. Sopraste uma brisa esfriando a canícula dos silêncios. E hoje quando as páginas continuam abertas, mas o teu olhar passa e não entra nelas, digo-te que há uma letra tua em cada palavra que o meu coração me dita.

4 comentários:

AnaMar (pseudónimo) disse...

Sei tão bem o que são palavras assim.
Mas inventem-se novas palavras. Para que não fiquemos presos nas páginas em branco.
Um beijo

mariab disse...

musa... deve ser assim que se fala duma musa. gostei. tanto...
beijo

Alexandra disse...

A vida é um livro que nos compete escrever dia a dia. Nele depositámos alegrias, tristezas, lágrimas, sorrisos, amores, desamores, mas também silencios... aqueles que ficam guardados só para nós.

helenabranco.poet@gmail.com disse...

Enganem-se os que tomam o silencio por desamor...debruçada em cada sílaba há uma reverberação outras vozes que se desprendem...e nos habitam



Abraço para Passos