segunda-feira, 11 de maio de 2009

PEDISTE-ME PARA TE FALAR DE CIDADES...

Foto de Felipe Rodríguez

Pediste-me para te falar de cidades. E eu parto em viagem pelas que conheço e visitei, por aquelas a que desejo regressar, outras que quero conhecer e ainda às que nunca conseguirei chegar.

Falo-te das pontes sobre o Sena, dos restaurantes em Lavapiés, das casas espreitadas em Trastevere, dos trajes vestidos na rua por ocasião do Festival de Salzburg, da ostentação e tradicionalismo da plateia no Gran Teatre del Liceo, do esqueleto no lago de Constança à beira de Bregenz, da sensação de rever imagens nunca antes vividas em Manhattan, da monumentalidade de Dresden, das ruas de poças e lama em Katmandu, do caos caótico nas artérias do Cairo, do luar num céu quente no Alcazar, dos templos de Jerusalém, das temperaturas mornas de morna na Praia ou das noites de céu azul em Kuopio.

E sonho levando comigo Piazzolla até ao Teatro Colón, vou ao bairro de Palermo descobrir pegadas de Jorge Luís Borges, no Abasto oiço as janelas cantarem Gardel, no Canche de Boca revejo as fintas de Maradona, de Batistuta ou Caniggia e atravesso a vida na Avenida Corrientes. Parto em busca de Indiana Jones no Khazneh banhado pelo sol e que espreito a partir da embocadura do Siq, num pôr-do-sol procuro Tintim nas montanhas de Petra  e sento-me nas ruínas dum dos 4.000 lugares para idealizar o que possa ter sido apresentado naquele teatro.

E porque não espreitar o expressionismo de Edvard Munch em Oslo? E porque não ouvir Neruda ou provar um Merlot em Santiago? E porque não procurar Pushkin ou Tchaikovsky no impetuoso reflexo da Catedral de Cristo Ressuscitado, andar no mais profundo metropolitano do mundo ou apreciar, no palco, sucessores de Nijinsky, Pavlova e Petitpas? 

Mas antes de terminar gostava de te falar doutra cidade. Não sei como se chama. Não sei muito bem onde fica. Tem um lago de cujas margens se avistam as montanhas. À sua volta árvores regularmente distanciadas acolhem-nos com uma sombra que nos concede a frescura nas saudáveis tardes quentes. Sem falarmos, aquelas montanhas devolvem-nos respostas sempre desejadas. Na água límpida nunca nos revemos sós. Há uma torre onde subindo ao seu topo, junto aos sinos, se avista sempre quem nos deixou saudade. E nas ruas, com as suas arcadas carregadas de memórias, à noite, a lua ilumina o caminho dos que nelas vão deixando minutos das suas vidas, em sorrisos oferecidos àquelas pedras que tudo ouvem, segredados na felicidade de caminhar lado a lado, na certeza de encontrar um amanhã… a dois.

4 comentários:

helenabranco.poet@gmail.com disse...

Senhor Poeta, senti o apelo...fui consigo sobrepondo cada passo da sua viagem...dentre a musicalidade do seu olhar as coisas... revi-me no espelhamento do lago no grito de Edvard Munch na eternidade...de Piazolla nas respostas da montanha, na limpidez do acreditar no amanhã...a dois

...não nos perca de vista AMIGO

ABRAÇO para PASSOS

Patti disse...

Magníficos passeios, magníficas ruas e magnífica cidade; a última.

sonja valentina disse...

acabei por me perder pelas ruas estreitas e irregualres de trastereve e por ali fiquei, presa num labirinto de doces e quentes recordações...

Marta disse...

Tão bom recordar cidades. Viagens.
Aqui. Assim.

E ao som de PA...QUE...


no passado Sábado chegou ao concerto da Queima, em Braga, às 3 da manhã! Terminou às 5!! Mas vale sempre a pena :) "quando a alma não é pequena"!


Gostei de o ler. Mais uma vez, Passos.