domingo, 3 de maio de 2009

CARTA A UM EXTRATERRESTRE

Foto de Amanda Chapman


Querido extraterrestre, 

Sabes que aqui na Terra, o homem desenvolveu muitas formas de observar, de viajar, de contactar com outros astros. Sempre em busca de diferentes formas de vida, descobrindo novos planetas, novas formas de comunicar. Não há muito tempo o homem sonhava chegar ao planeta mais próximo, a Lua. Hoje, sonda noutros mais distantes numa infatigável vontade de saber mais, porventura de se mostrar também a outras ‘gentes’. Foi, por isso, mais fácil, agora, chegar ao teu planeta. Quando eu era criança teria sido impossível perceber se no teu, ou noutro planeta também se ouvia música, se também se viam filmes, se se tirariam fotografias, se se teriam amigos, se existiria a noite e o dia, o dormir e o acordar, se existiria a tristeza, a alegria, a dor, o riso, o sofrimento, o prazer, o amor, a esperança, o desencanto… seria impensável confirmar se aí haveria saudade. 

Há muito, muito tempo o homem levava demasiado tempo para chegar ao outro lado do planeta. Tempo houve em que o homem nem sequer sabia que existia um outro lado do seu próprio planeta. Com o tempo o homem foi aperfeiçoando as suas descobertas e as suas técnicas e hoje as distâncias encurtaram. Nesse tempo tão longínquo o homem deixava a amizade amarrada na alma de outro homem a muitos quilómetros de distância e confiava que ela lá ficasse plantada, viva. E só quando os olhos de ambos se cruzassem, confirmavam a verdade da sua crença. Hoje é mais fácil o homem deixar uma semente de amor no outro lado do mundo e tentar adivinhar quando ele desabrocha, ou não. Obviamente com as certezas e dúvidas que os sentimentos desencadeiam. 

Sabes que aqui na Terra, foram muitos os homens que disseram ter visto extraterrestres. Sabes que aqui na Terra, foram muitos mais os homens que não acreditaram nesses seres irmãos e tudo fizeram para os desmentir, para os criticar, até mesmo para os condenar. E tem sido muito difícil provar se algum terrestre, na realidade, viu ou não um extraterrestre. Por isso, faz todo sentido a dúvida que levanto a mim próprio sobre a veracidade, ou não, de ter comunicado com um extraterrestre. Como tu! Sabes que há pormenores que de tão reais não parecem ter sido possíveis de experimentar com um extraterrestre. Outros há de tão difícil crença que só são passíveis provirem de um planeta que não este a que chamamos Terra. 

E se eu arriscasse dizer a alguém que comuniquei contigo… não sei o que aconteceria. Talvez me mandassem prender. Não acreditariam. E ir-me-iam fazer imensas perguntas para as quais nem sempre obteriam resposta. Perguntar-me-iam se o extraterrestre falava. E eu responderia que sim. Percebeste-o? E eu responderia que muitas vezes sim, noutras nem por isso, mas que talvez acontecesse o mesmo na comunicação inversa. O extraterrestre olha? E eu responderia que sim. Que tem um olhar muito particular. E sente? Mais uma vez responderia que acho que sim. Caso contrário não diria as coisas que soube dizeres. E tem mãos? E aqui já não poderia ser tão seguro. Talvez… nunca as vi. Como há muitas coisas que não sei. Como mede o seu tempo. Onde fica o seu planeta. Quantos dias tem o seu ano. E muitas, muitas outras coisas. Mas porque não sabes? Não sei… 

Mas, na verdade, sei! Sei que muitas foram as perguntas a que respondi, e algumas para as quais nunca obtive resposta. Sabes que na Terra há um livro intitulado O Principezinho? Acho que sim. Deves saber. Mas se aí no teu planeta nunca o tiveres lido, digo-te que na história há um aviador que estabelece conversa com um ser proveniente de outro planeta. Esse ser é muito sábio, sensível, delicado e muito interrogador. O aviador tenta responder-lhe o melhor que sabe, satisfazer os pedidos o melhor que consegue… mas na permuta muitas vezes fica sem resposta. E a melhor resposta a dar-lhes, talvez devesse ser: ‘Não sei porque eu fui o aviador e o extraterrestre foi o principezinho!’ Mas receio que isto ainda fosse aumentar a confusão. E quem não acreditasse que eu tinha comunicado com um extraterrestre, muito menos seria capaz de entender as palavras deste livro. Por isso acho melhor guardar em sigilo que comuniquei contigo. Fica um segredo nosso. 

Sabes que aqui na Terra, quando se escreve uma carta, endossamo-la para uma morada. Como nunca soube a tua morada não te posso enviar cartas. Aliás, nem sem sei se no teu planeta há carteiros, marcos de correio, selos… Mas sei que posso escrever cartas. Tenho é de deixá-las por aqui. As cartas não têm, necessariamente, de ter resposta. Mas se quiseres responder sei que sabes para onde enviar.

Um abraço [se é que é possível existirem abraços entre seres de diferentes planetas].

3 comentários:

jardinsdeLaura disse...

Quase que dá vontade de ser extra-terrestre!

Marta disse...

Einstein, disse um dia, que a imaginação é mais importante que o conhecimento. E eu concordo! Ainda mais quando sou confrontada com histórias como esta!
Tão interessantes algumas questões aqui levantadas que dá vontade de responder ao extraterrestre :) A evocação da história do Principezinho, dá pano para mangas no que concerne aos relacionamentos, nomeadamente, à amizade. Tão profundamente lindo!
Essa história faz-me lembrar sempre, de forma muito bela, o valor da confiança, da sinceridade, da importância da palavra cativar e o valor de cada pessoa, extraterrestre ou não :), na nossa vida. Todos somos únicos!

«Tu seras pour moi unique au monde. Je serai pour toi unique au monde».

Obrigada por me fazer presente Le Petit Prince, numa tão ternurenta carta a um extraterrestre :)
«todos diferentes, todos iguais», afinal.
Parabéns!

abraço terrestre :)

Alexandra disse...

Passei, li, voltei a ler e muito haveria a dizer. Mas, deixo somente esta palavra: ENCANTADOR!!!

Até mais.