São minúsculos. Parecem balões em patins. Ou melhor, sinais de interrogação sobre pontos rolantes. Circulam a uma velocidade estonteante por aqueles corredores de luz, nas catacumbas em forma de raízes do pensamento. São milhões incontáveis mas não chocam, não colidem entre si. Não evidenciam a existência de qualquer organização hierárquica definida. Porém, a sua comunicação é perfeita. Trocam, entre eles, ideias. Passam-nas em cadeia. Sabem sempre a quem. E mesmo quando um interlocutor a recusa, é com segurança que a outro se dirigem com o intuito de garantir que será essa a via para a corrente não se quebrar. Desistir é verbo que não sabem conjugar. Só quando a mensagem é entregue, retrocedem no seu percurso, assumindo primeiro o papel de receptores e logo em seguida de veículos de transporte dessas ideias. É impossível perceber como funciona o cérebro desses pequenos seres. De qualquer forma só operam em ambientes de luz, pois precisam de se sentirem constantemente iluminados.
Alguns parecem ter um estatuto especial pois podem ascender a salas existentes nos troncos da imaginação onde se abrem janelas que iluminam a floresta escura onde se implantaram. É, de certeza, a esse nível que as últimas análises se realizam, os últimos pormenores são definidos, os detalhes mais reais são retirados. Não existem conselhos de deliberação. Mais uma vez cada um tem as suas missões e tarefas extrema e claramente definidas e assumidas.
E no processo de ascensão, quando é atingido o nível do relógio mais alto, páginas aladas iniciam o voo rumo a destinatários previamente identificados. Partem em busca do sono dos justos. Ou daqueles que têm a felicidade de não se cristalizarem na razão e são capazes de sonhar acordados.
estas palavras foram inspiradas no quadro de Jacek Yerka, cuja obra descobri aqui
5 comentários:
Gostava de entrar neste quadro...
Eu visualizo uma verdadeira epifania.
São os pirilampos que iluminam os ramos das árvores, onde estão pendurados os vestidos que as fadas vão vestir, mal acabem de nascer.
da ascese mais urgente. o destino das palavras a serem ritmo da alma.
Que bonita, a imagem da Patti. Que inspirado o seu texto. Tenho hábito de deixar passar uns dias sem seguir os seus passos, para depois estender uma toalha cheia de requintes sob os seus textos, e poder degustá-los, como um banquete de palavras e imagens. Obrigada.
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