Foto de Dare Turnsek
Há muito, muito tempo, quando as madrugadas se douravam no mar, num reino muito longe daqui, para além da fronteira do sol, havia um soberano reconhecido e respeitado por suas conquistas. O seu tempo, e o dos seus mais próximos servidores, era gasto a descobrir novos objectivos, planear estratégias e consumar os actos que alargassem os seus horizontes de domínio. A sua arte de delinear e preparar, mais do que as armas e o poderio humano, garantia-lhe o sucesso das suas demandas. A contundência das novas invasões eram garante de êxito e obediência por parte das vítimas que se vergavam à sua superioridade e que acabavam por ceder e lhe prestar vassalagem.
Um dia o soberano chamou o seu filho varão e ordenou-lhe que partisse em busca de novas conquistas. Que alargasse o reino que viria a ser seu, uma vez que herdasse o seu reinado. Era a primeira vez que lho exigia. Seria a primeira vez que o príncipe partiria na tentativa de imitar as pisadas do pai. Determinou, ainda, o rei que acordasse com o seu conselheiro de armas, a quantidade e variedade de equipamento bélico a preparar, bem como a quantidade de homens que o serviriam. Não quis o rei dar-lhe nenhuma directriz, com o intuito de lhe mostrar confiança e estimular a sua responsabilidade e capacidade de decisão de futuro monarca.
Desconheciam os conselheiros reais as intenções do príncipe quando este se lhes dirigiu. Mais espantados ficaram quando o infante lhes revelou querer partir sozinho com a sua montada. Por considerarem não dever duvidar das intenções do príncipe, a quem aliás o rei não havia dado propósitos concretos, os conselheiros reais admitiram que o filho do monarca partiria apenas em prospecção. Mesmo assim decidiram nomear uma escolta para responder pela segurança do futuro rei.
Umas semanas mais tarde, o príncipe apresentou-se perante seu pai. Após um abraço mais formal do que familiar, o rei pediu: ‘Dizei-me meu filho o que haveis conquistado, quem Vos jurou fidelidade, quem fizestes Vosso prisioneiro?’ O príncipe respirou, parecendo tomar fôlego para o que se preparava dizer. ‘Meu senhor, conquistei o coração mais belo, da dona do rosto mais desenhado do mundo. Jurámos fidelidade eterna um ao outro e fui eu que me tornei prisioneiro do seu sublime coração!’ O rei caiu em si. Ruborizou-se-lhe o rosto. Deu um passo em frente e gritou: ‘Re ti raaaaaaaai-Vos!’ O príncipe baixou a cabeça. Imperceptivelmente pediu: ‘A sua bênção meu pai!’ Recuou em direcção à saída e voltando-se passou a porta do salão. Ficou sem perceber se o pai ficara desiludido por ele não ter cumprido as expectativas que criara em torno da missão de que o incumbira; se teria compreendido quanto mais importante poderá ser a conquista dum sentimento que abra, de par em par, as janelas da alma, do que inúmeros avanços terrenos conseguidos por força das armas e da força… ao sair, o príncipe não se apercebeu de que o rei virara as costas para a entrada, a fim de dissimular uma lágrima que lhe escorria pelo rosto.
2 comentários:
sim...esse "eucontar" é o superlativo absoluto composto da inteligência...escrito com a sabedoria dos ascetas e a beleza de um ser admirável!...
ABRAÇO maior...
Até os mais duros têm o mar nos olhos...mas esse, só brota quando a emoção emerge apanhando desprevenida a razão.
Só alguém com um EU belo poderia "eucontar" esta "Estória".
Até mais.
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