Foto de Xavier Rey
Partiste como se levasses a vida numa mala. Os segredos guardados, fechados, trancados, esquecidos. Partiste de olhar baixo para evitar quem te questionasse, ou com receio de enfrentar o estreitamento do horizonte. A tua pele era um vestido simples, da cor da tua beleza, com o perfume da tua serenidade. Caía e ondulava ao som dos teus passos. Descalços para sentir o chão, para desenhar trilhos inigualáveis ou para entrar no rio. A partir do cais onde atracaste em mim. Onde descarregaste todos os tesouros com que me presenteaste, com que me fizeste acreditar na possibilidade de ser um grão de areia na tua praia. Agora vais ter de atravessar o rio e chegar à outra margem. À tua margem onde deixaste o resto da tua vida que não levas agora na tua mala. A tua margem onde guardas os teus segredos. Alguns que desfolhaste para mim. Outros que serão só teus. Até à outra margem onde o meu olhar já não te alcança. Apenas adivinha. Com ilusão, com crença imaginária. Com erros de quem não vê. De quem não lê. A mim resta-me esperar. Que um dia regresses. Que um dia te canses de caminhar contra o vento da saudade. ou então… esquecer!
5 comentários:
eu vim de outra margem...sem malas nem fé...ousando apenas a coragem...
Restei nem lá nem cá...
se eu te encontrar e tu me reconheceres...quem sabe Amigo se...partiremos talvez numa viagem...
Abraço para PASSOS
PAS[Ç]SOS,
Como sempre uma escrita maravilhosa!!
Esquecer é impossível, quanto muito emerge um luto...
tudo é sempre mais difícil para quem fica... parece que nada faz sentido. mas por vezes é preciso contrariar os impulsos e aceitar que o que fica para trás fica parado num tempo que já não é nosso, já não nos pertence. e é preciso aceitar que temos que avançar sózinhos ainda que custe...
Por que insistem em dizer-nos para seguirmos em frente quando tudo nos puxa para trás, para esse foi que cremos que continua a ser, que queremos que seja, ainda, o que poderia ter sido?
Gostei. Muito.
O caminho do esquecimento é sinuouso, nem sempre a nossa mente consegue soprepor-se ao nosso coração, resta ao longo deste caminho tentra aprender e retirar de todos os acontecimentos uma lição que mais tarda poderá ajudar-nos em outras situações
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