segunda-feira, 15 de junho de 2009

NOVIDADE

Foto de MarieM


A novidade rompe a pela da vida com o mesmo fulgor com que o recém-nascido abraça a primeira inspiração, com a mesma inocência da virgindade, com a mesma pureza do desabrochar das folhas. Sempre que uma novidade se destapa no céu da rotina, iludimo-nos com a inconsciente expectativa de que ela se molde aos nossos conceitos pessoais de perfeição, ao esboço dos nossos desejos, à formatação das nossas carências.

Essa novidade poderá ser um novo ser, um novo trabalho, uma nova habitação, uma nova viagem, uma nova amizade, um novo livro, uma nova paixão.

Enquanto acreditamos que esse perfume em nós embebido, desta vez é que irá ser eterno, a erosão vai trilhando o seu caminho. Enquanto não duvidamos que desta vez é que a cor será a nossa preferida, não nos apercebemos como ela se vai esbatendo e, como noutras situações, desbota exactamente numa infinita paleta em que não existe a nossa pigmentação eleita. E enquanto juramos fidelidade a essa novidade, as forças capazes de o desacreditarem, apontadas a nós, vão sulcando o seu caminho.

E quando constatamos que a novidade já o deixou de ser, somos incapazes de segurar o que quer que seja para além da novidade. E o único prazer sobrante é a esperança de que seja breve o tempo que nos separa duma nova novidade.

7 comentários:

elsafer disse...

o nosso ego precisa de "novidades" ... mas também precisamos de relações de sustentabilidade , alinhados com os nossos valores ...

Gi disse...

Se estivermos atentos até naquilo que, aparentemente, parece imutável, surge uma novidade.
Nas relações também tal acontece, é só darmos tempo para que as novidades aconteçamna continuidade.

Celina Rodrigues disse...

Este blog é para mim entretanto uma novidade ;)

sonja valentina disse...

até na mais rotineira das situações é possível haver novidade. assim haja coragem e vontade para entendê-la, vê-la, percebê-la.

Alexandra disse...

Apesar de tudo, é necessária a atenção ao novo, ao que surge no horizonte. Com alguns receios? Talvez! Mas nunca devemos rejeitar, porque precisámos dessa 'novidade' como precisámos de ar para respirar... sem ela, a vida tende a desaparecer... aos poucos!

Como alguém dizia: 'É nossa obrigação' seguir em frente e acreditar, até, na 'novidade'!

Patti disse...

Nem mais!

A grande novidade de uma novidade é que ela durante um certo espaço de tempo, esconde e desvia-nos daquilo que para nós já não é novidade.

E que pode ser um simples livro, uma t-shirt ou uma vida nova.

Tia [Zen] disse...

Sinto da mesma forma... Estamos sempre mais despertos e com os sentidos mais apurados para a novidade!
Bjs