quarta-feira, 10 de junho de 2009

E SE NÃO HOUVER AMANHÃ?


Foto de Philip LePage

O sol realçava as cores daquela manhã junto ao rio. Caminhava banhada por uma sucessão de ideias, de contradições, de planos de conversa. Estava segura do que queria dizer; só não estava tão certa se o conseguiria. Passavam alguns minutos da hora marcada. Estacionara o carro e seguia em direcção à esplanada combinada. O coração acelerava a cada passada. Apetecia-lhe dizer para se acalmar, mas sabia não valer a pena. Atravessava uma fase de total irreverência. Quando percepcionou as cadeiras e mesas da esplanada ansiou por perceber, ainda à distância, o que iria acontecer; ir-se-ia decepcionar ou a realidade corresponderia ao idealizado. Já nem o olhar estava segura de conseguir lembrar. O olhar onde o seu já estivera fixo. Estava cada vez mais próxima e não o conseguia identificar em nenhuma das duas figuras masculinas sentadas sozinhas noutras tantas mesas. ‘Será que ainda não chegou?’, pensou. Estava junto às mesas e, inesperadamente, ficou sem saber o que fazer. Não, não poderia ser nenhum daqueles. ‘E… agora?’ Um rasgo de lucidez levou-a a procurar uma mesa livre e sentar-se. Antes de o concretizar viu-o encaminhar-se para si. O seu coração parou e a sua voz soltou um inseguro ‘Olá!’. Trocados os pedidos de desculpa pelo atraso, sentaram-se. E com uma serenidade que duvidava não conseguir, disse-lhe: ‘Quero confessar-lhe que tudo isto só pode ser uma irrealidade. Não faz qualquer sentido. Terão existido equívocos que nos trouxeram até aqui. Uma troca de olhares é uma curiosidade satisfeita num momento e não deve ser levada para além daí se nada mais há nas pessoas que as liguem. Mas a verdade, quero reconhecer, é que eu própria não consegui me separar daquilo que a insistente presença das suas palavras me foi provocando. Por isso me decidi a falar consigo pessoalmente para, uma vez mais, olhos nos olhos lhe dizer que devemos deixar a história por aqui. Não há nada que me permita continuá-la. Sejamos racionais pois só aconteceram palavras que beneficiaram de alguma facilidade em transitar de um para o outro lado.’ O silêncio permitiu ouvir um barco de recreio que caminhava em direcção ao mar. Os olhares de ambos prenderam-se nele e terão viajado sem que soubessem se com o mesmo destino, ou não. ‘Não partilho da intenção das suas palavras, não me o permite o coração, não me o contradiz a razão. Mas não devo refutar a sua decisão.’ ‘Acredite que é o mais sensato…’ e as palavras libertaram-se-lhe com uma segurança que… não existia.

2 comentários:

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

estive a ler todos os postes anteriores, referentes ao tema.

tens aqui uma boa narrativa.

parabéns!

so_she_says disse...

Dei por mim a suster a respiração.

Um verdadeiro talento descri(a)tivo que deixa o leitor em suspense; e esperando que haja amanhã.

Belíssimo capítulo!