quarta-feira, 3 de junho de 2009

E SE NÃO HOUVER AMANHÃ?


Foto de Philip LePage

Já repetira aquela sucessão de gestos algumas vezes. Já marcara o número acabando por não realizar a chamada. Decidia e recuava. Avançava e desistia. Já não conseguia perceber quando era a razão ou a vontade instintiva a comandar os seus actos.
Acabou por marcar o número e, em seguida, pressionar a tecla que efectivava a ligação. Não sabia o que iria dizer, tinha preparado as palavras, mas… haviam desaparecido num vácuo nervoso. Sentia o coração bater mais rapidamente do que era habitual. Tentou controlar-se, um pouco irritada consigo própria por ter de se obrigar dominar. Ao terceiro sinal de chamada desligou. Desistiu.
Pousou o telefone. Foi à cozinha preparar um chá. O telefone tocou. Correu até à sala. Pegou no aparelho e… rejeitou a chamada. Voltou para terminar o chá. Trouxe a chávena para a sala. Sentou-se ao lado da mesa onde pousara o telefone. Saboreou o chá enquanto seus pensamentos se dispersaram entre certezas e dúvidas. A imaginação predominava numa realidade demasiado ténue e escassa, mas extremamente perturbante. Terminou a bebida e ficou parada no nada. À espera de ouvir o telefone tocar. Acabou por adormecer.
Quando despertou voltou a pegar no telefone e percebeu que recebera uma mensagem. Abriu-a. Dizia: ‘Onde escondeu a sua voz? Na profundidade do seu olhar? Espero que o vento me os devolva!’
Decidida marcou o número. Esperou que aquela voz aquecida por uma brisa de Estio a atendesse: ‘Finalmente…’ Interrompeu-o: ‘ Acho que precisamos de conversar. Mesmo que a razão me contradiga, preciso de tentar serenar este conflito que ateou em mim!’
‘Será um prazer!’

1 comentário:

AnaMar (pseudónimo) disse...

Que bom! Esclarecer é serenar.
Eu telefono. E do outro lado: silêncio. :-(. Inexplicável e doloroso.
Desisti.
Bjs