segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O CHEIRO DA SOMBRA DAS FLORES

Foto recolhida aqui


O primeiro contacto foi aqui. E li. E a sensação foi tão… que corri. E na primeira livraria com que me cruzei, um livro para ler mais, procurei. Mas não encontrei. E em cada livraria que entrava, eu procurava, mas não encontrava. E depois noutra, e mais noutra e até noutro, quando fui ao Porto. E nunca o descobri e mais não li, até que de novo o vi aqui. E foi então que pedi uma mão para chegar à solução. Foi aqui que a pedi e fui remetido para ali. Por fim, depois de muito calcorrear já tenho nas mãos O cheiro da sombra das flores.

Comecei-o a ler e a soçobrar à magnitude da escrita. Num arrepio constante fui passando de poema para poema. E a pele não serenava. E eu fui ficando saborosamente estarrecido. E tentava apanhar cada pormenor como se me atirasse para o chão e, de gatas, procurasse cada migalha caída, impossível de desperdiçar. E aqui e ali um sorriso implantava-se-me nos lábios. E outro rasgava-me o peito, enchendo-me de alegria e de deslumbramento o interior. Que prazer. E esmigalhando-me fui ficando mudo, reduzindo-me cada vez mais à minha insignificância.

E sinto-me incapaz de o descrever. Por isso permito-me recorrer a excertos do Prefácio, nas palavras de Joaquim Pessoa, as quais considero serem inequivocamente assertivas. "…transformando com invulgar talento as diversas vozes que há na sua voz, de modo a oferecer-nos um canto em que a dúvida, a interrogação do outro, a confrontação do individuo com a realidade é, às vezes, dolorosa, e muitas vezes, incómoda. A sua repetição rítmica das palavras, das ideias, dos conceitos é uma arma de confronto, de arremesso contra uma realidade parada ou contra o indivíduo parado num palco que se move à sua volta."

Para mim, João Negreiros brinca com as palavras descobrindo-lhes rolamentos, cordas, elásticos, esticadores que se me afiguravam inexistentes até lhos ler em exemplos despejados de enxurrada. João Negreiros brinca com o leitor porque o leitor é cada um de nós, de vocês, é o homem, a mulher, a criança, o velho. É ele próprio. E brinca com a vida provocando-a, na expectativa de se ver confrontado por ela para, posteriormente sair, ele próprio da posição de defesa e reinvestir. Nunca se sentando. Nunca tolerando. Nunca se calando. É-me impossível eleger um excerto ou um poema para identificar as emoções que pretendi aqui deixar, mas consciente de estar a cometer alguma injustiça transcrevo um exemplo identificativo da singulariedade da sua escrita. Intitula-se O Colo, e é assim:

Dá-me esse abraço
p’ra não sentir este aperto
dá-me este amasso
p’ra te contar com apreço
que não consigo
que é muito
perco-me amei-o

nas contas do colar a ti

E ao chegar ao fim fiquei assim, com vontade de regressar para recomeçar e voltar a ler e de novo beber cada intuição, cada emoção até me sentir um oceano que engoliu uma floresta.

2 comentários:

Marta disse...

Gostei tanto tudo íssimo

Gostei que tivesse gostado

Gostei que tivesse procurado

Gostei que tivesse achado

Gostei do que diz sentir ao ler João Negreiros

Gostei da forma como o diz

abraço

Unknown disse...

olá!
Como sou fã do trabalho do João Negreiros, descobri mais um na rede, a saber mais também sobre a poesia dele, e como tenho o previlégio de poder dizer alguns dos fabulosos poemas ele, deixo a deixa: O TUM está em digressão com um espectáculo de poesia de João Negreiros onde poderá encontrar os poemas do "Cheiro da Sombra das Flores" como também "Luto Lento" e alguns poemas inéditos do livro"A verdade dói e pode estar errada"

o espectáculo "Inspiração é Respirar" está de volta aos palcos!


Espectáculo de poesia e percurso antológico da poesia de João Negreiros, que tem como objectivo traçar uma rota que vai desde as suas tendências Neo-Surrealistas até à lírica mais conceptual e sonora. A interpretação dos actores visa ser oral, naturalista e inovadora, tornando a literatura mais óbvia, mais universal e mais acessível. É um espectáculo de emoções extremas e dos sentimentos mais íntimos e guarda os momentos mais carinhosos que só se partilham com os amantes, os amigos e o público.


os próximos espectáculos são Vila Real, Casa de Pasto Chaxoila, 4 de Setembro às 21h30
Porto, Clube Literário do Porto, 6 de Setembro às 21h30
Braga, Livraria Centésima Página, 8 de Setembro às 21h30
Braga, FNAC do Bragaparque, 10 de Setembro às 21h30
Coimbra, FNAC Fórum, 12 de Setembro às 17h00
Chaves, Café Grão Bago, 13 de Setembro às 21h30
Porto, FNAC Norteshopping, 16 de Setembro às 21h30
Vila Real, Associação Espontânea, 19 de Setembro às 22h30
Lisboa, FNAC Chiado, 20 de Setembro às 17h00
Guimarães, Livraria do Centro Cultural São Mamede, 21 de Setembro às 21h30

além de poder ouvir os poemas pela voz das dizedoras do TUM pode encontrar os livros.
mais contacto em :
http://www.blogdotum.blogspot.com/

Dina Costa