sexta-feira, 28 de agosto de 2009

ALGURES NA COSTA ALGARVIA

Foto de meu Nokia

O compromisso acordou o sono bem mais cedo que tem sido normal. A rotina diária foi convertida numa sucessão de preparações contra os ponteiros dos relógios para não desiludir os horários combinados. As sandes, a fruta, os iogurtes, o pequeno-almoço, o besuntar dos corpos em protector solar, o preparar das roupas de substituição, as braçadeiras, as tolhas, os objectos de brincadeira atropelavam-se num tempo que corria mais veloz do que era desejado. Um começo de manhã que mais parecia aqueles que em breve reporão as rotinas dum novo ano lectivo e de trabalho.

Poucos minutos depois do que fora combinado a chegada. A travessia da ria em direcção ao areal que se descobre por detrás das dunas. Uma área imensa em que a questão colocada é a mesma: ‘onde colocar as toalhas?’; não por falta de espaço, mas sim pela vasta possibilidade de escolha.

A maré preparava-se para vazar. A transparência e a temperatura seduziam a vontade do grupo onde as crianças arrastavam os adultos e estes desafiavam os mais pequenos. Era distante o local onde se ‘perdia o pé’. O sol foi aquecendo e o areal ficando mais povoado. Enquanto a maré descia, na areia que o mar abandonava, as conquilhas espreitavam fora da areia convidando a transferência para um recipiente que as levasse para fora do habitat natural. Dezasseis mãos pareciam não ser suficientes para recolher todas as que se mostravam fora da areia.

Para as crianças, em conjunto, as possibilidades de brincadeira multiplicam-se, inventam-se, aproveitam-se, repartem-se. Na sombra dos chapéus conversam os adultos. E quando as memórias se começam a desembrulhar, o passado surge-nos na frente do olhar presente. E cada um dá uma dica que ajuda a capacidade de lembrar a prolongar-se até à hora da partida.

A ria volta-se a atravessar no regresso. No adro da igreja as mesas disponíveis já rareiam. Os petiscos quase não se escolhem. Pedem-se na sua generalidade. O pão algarvio, o queijo amanteigado, as ostras, o chouriço assado, as amêijoas, os camarões, voam de mão em mão saboreando as bocas, deliciando cada momento que se preenche em conversas continuadas. Instantes de partilha molhados pelo vinho que cada boca leva a escorrer pelas gargantas.

Num cruzamento ocasional, um local revela pormenores da história daquele povoado de meia dúzia de habitações. Identificam-se os termos algarvios com os do Baixo Alentejo. Só o serviço o leva e põe termo a esta pequena lição em breves instantes de conversa. Um anúncio duma casa para venda provoca a liberdade do sonho. As ideias, simples razão de divagação, estilhaçam em inúmeras possibilidades de futuro, de utopias, de realidades a não escrever.

Só o cansaço nos arrasta para as viaturas com a promessa de no próximo ano repetir o dia, mas não sem que antes se sinta a necessidade de aproveitar, em Lisboa, o prazer desta partilha, de oferecer o tempo de cada um para preencher os minutos do outro. E ao regressar ao local de poiso periódico o cansaço vem de mãos dadas com a felicidade de um dia intenso, preenchido, completo. Daqueles dias que nos fazem pensar que seria preciso mais um extra para descanso desta corrida que preenche de ar fresco a alma e escreve novas memórias para guardar no baú, de onde, daqui a tempos serão retiradas com outras que a amizade ajudou a guardar.

5 comentários:

Tia [Zen] disse...

Que bom, um dia feliz. Tive um dia idêntico com a família, aqui em Caminha.

Um beijo

continuando assim... disse...

saudades da ria formosa .... tantas :)
gostei de ler naveguei por lá nestas palavras .

Anónimo disse...

Leitura do primeiro parágrafo: STOP. Disseste BRAÇADEIRAS? Eu li BRAÇADEIRAS? O que é que tu andas a fazer no meu blog?
Vou-me pegar contigo, ah pois vou.

Anónimo disse...

Na sombra dos chapéus conversam os adultos. Pois, entendo as braçadeiras. Grrrrrrrrr...

Anónimo disse...

Uma trégua, antes de voltarmos às BRAÇADEIRAS: tiveste um dia feliz. Com a garotada aos saltos ninguém fica imune à felicidade. É aquela minha teoria do riso que nunca faz mal a ninguém, sabes?
Comizainas também preenchem a alma de anseios pelo crescimento do corpo. A minha não foi o adro da igreja, mas no jardim da tia.
vende-se. Como eu compraria...
Cá está o texto. Frase a frase.
:)