domingo, 20 de setembro de 2009

INSPIRAÇÃO É RESPIRAR

Foto recolhida aqui


Poesia é inspiração. Poesia inspira. A poesia respira. A poesia varia consoante a respiração de quem a inspira. A poesia de João Negreiros, como já o tentei exprimir, afigura-se-me orgânica, intimista, pedaços de alma arrancados à carne, com dor, com prazer. Poder-se-á, porventura, considerar que a sua poesia transporta uma maturidade que a sua idade – se é que a idade marca o que quer que seja - poderia não indiciar.

Inspiração é Respirar é um espectáculo inquestionavelmente meritório, pelo Teatro Universitário do Minho. Para quem admira a escrita de João Negreiros, um espectáculo que pretende ser um passar pelo ‘percurso antológico da poesia’ deste jovem poeta e dramaturgo, será sempre digno de ser apreciado.

Terei de confessar, sem questionar todo o empenho, crença e obviamente amor, pelo que dizem, das jovens actrizes, que me deixou muito aquém das expectativas. Senti-o como um exercício ainda muito académico. Carente de muito do peso que a poesia de João Negreiros carrega. Mesmo que cuidada, a dicção peca, algumas vezes, por incompreensível. As inflexões traem a pretensão das intérpretes. A declamação é demasiado estereotipada. O gritar não implica, necessariamente, nem força, nem drama. Os sorrisos, ou mesmo risos, parecem-me um quanto artificiais. Aqui e ali desajustados. E naqueles que melhor conhecia, algumas respirações escolhidas desviaram sentidos dos poemas. Arrisco-me a dizer que faltará, ainda, às dizedoras a maturidade que João Negreiros revela como maior do que seria expectável.

Quando já se mastigou alguns dos textos de João Negreiros, como eu fiz, tem-se na boca, guarda-se no paladar uma gustação muito suculenta. Aquilo que eu provei em Inspiração é Respirar carece de temperos, soube-me a insonso. Mas quando há vontade, e não duvido que a haja!, há que deixar apurar, rever as doses, procurar novos condimentos. Um espectáculo tem, sempre, a obrigação de crescer. Neste exemplo há muito por onde o conseguir.

3 comentários:

Anónimo disse...

João Negreiros. Talvez um dia me passe pelo olhar.

Ana Catarina Miranda disse...

Para já, porque fiquei parva com o post, digo apenas: "eles não sabem".

Ana Catarina Miranda

Unknown disse...

Caro, parece-me que está equivocado em muitas coisas, mesmo, quem o diz são as mesmas pessoas que dizem os poemas. Há muito a melhorar sem dúvida neste espectáculo, mas pela mão de quem sabe, e conhece o potêncial. De académico temos o nome.
A poesia do João Negreiros é-nos familiar, e sabemos muito e muito bem o peso que ela carrega, tal como a simplicidade, a leveza, e as verdades irrefutáveis, uma vez apropriadas por cada dizedora são-no por natureza.
A poesia deste espectáculo em último caso é explicativa, por isso o objectivo é ser clara e óbvia. quanto às "inflexões" como disse(apenas não entendi onde e porque este termo, e não mudanças de direcção ou simplesmente: movimento do actor, como é próprio em teatro)(??)são fruto do instinto.
Uma coisa que este espectáculo não é- esteriotipado, não estou a ver o tipo...
e "Quando já se mastigou alguns dos textos de João Negreiros, como eu fiz, tem-se na boca, guarda-se no paladar uma gustação muito suculenta. Aquilo que eu provei em Inspiração é Respirar carece de temperos, soube-me a insonso." Pois bem, venha a palco e faça melhor, por dentro, revolva as entranhas, dê o que tem e brilhe e faça a mensagem passar.
só concordo consigo no que respeita à qualidade soberba da poesia de João Negreiros, e que há vontade de fazer crescer o espectáculo.