quinta-feira, 26 de março de 2009

EVADIDAS

Foto © Ianni Dimitrov


- Boa-tarde! Por favor, desejo falar com o Senhor Cônsul.
- Peço desculpa, mas quem devo anunciar?
- Creio que a minha identidade não será o mais importante.
- Lamento, mas qual é o assunto?
- Permita-me falar com o Senhor Cônsul. Diga-lhe que o assunto é de interesse superior!

- Boa-tarde! Quer ter a amabilidade de me explicar o que se passa?
- Senhor Cônsul, acredito que tenha conhecimento de terem sido recentemente libertas palavras…
- Sim, sim. Estou a par do assunto. Mas o que a leva a contactar-nos?
- Senhor Cônsul, receio que algumas das palavras anteriormente detidas se tenham evadido antes da autorização para serem libertas…
- E poderei saber o que a leva a revelar-me essa suspeita?
- Essas palavras que se evadiram procuraram refúgio em território, temporariamente, sob minha administração. Contudo porque não estava presente a nossa especialista em vocabulário de sentimentos e emoções, não conseguimos entender o que pretendem dizer. Falam com sentidos ambíguos, usando metáforas, verdadeiramente difíceis de entender fora do provável contexto com que foram escritas…
- Estou a compreender… mas de que modo julga que a possamos auxiliar?
- Acreditei que pudessem ter algum especialista capaz de as entender…
- Percebo… mas não é fácil encontrar quem tenha a disponibilidade e vontade de as alcançar… diria mesmo que será preciso desejá-las para as conseguir 'ler'...

3 comentários:

sonja valentina disse...

... e quem dá assim abrigo a ambiguas palavras evadidas não guardará também para si o secreto desejo de lhes seguir os passos?

mariab disse...

ah, as palavras! que partidas nos pregam... e como são, pr vezes, difíceis de entender!
beijos

Marta disse...

Uma delícia esta saga das palavras!

abraço, com sol