sábado, 28 de março de 2009

DESPEDIDA

Foto © Jon Gibbs

Sentados nos degraus da madrugada, abraçava-nos a penumbra das horas esgotando-se no tempo que mediava até à despedida. A neblina dissipava-se nos primeiros sorrisos de luz. Um mar de estrelas adormecia submergindo num céu gradualmente mais azul. Um vento espreguiçado arrepiava a pele e soprava prolepses da despedida. Cobrimos com nossas próprias mãos os braços despidos, arrepiados no sono não dormido. Cada palavra era o início duma frase que calávamos, para não dizer, para não magoar, para não deixar marcas, para não deixar saudade. Em silêncio adivinhávamos as outras palavras que nenhum ousava expressar. Palavras que concluíam o que não se desejava terminado. Levantámo-nos e caminhámos lado a lado, linhas paralelas que desejavam se cruzar, mas perdiam essa coragem a cada passo mais, a cada segundo menos. À nossa frente, a espuma do mar atraía-nos como se fosse o destino, sendo na realidade a partida para a separação. Nas nossas mãos os dedos travavam o desejo de se tocarem, e as nossas passadas cada vez mais perto da água. A nossa pele já conseguia sentir a fragrância do sal. Detivemo-nos. E pedimos ao tempo só mais um momento… ao momento só mais um instante… o instante duma inspiração… o instante dum arrepio… só mais uma rebentação… só mais um desejo… só mais o momento necessário para dizer duas palavras… ligadas entre si… apenas cinco letras… antes do adeus.

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