quarta-feira, 25 de março de 2009

NUMA TARDE DE ESTIO [jeans]

Foto © Sonja Valentina


A temperatura do soalho harmonizava-se com o final de tarde de estio. Sentiu-o quando, inadvertidamente, descalçou um dos pés e o poisou no chão, enquanto esperava por ele. Na sua pele, o calor do sol reflectia mais um dia de praia, refrescado pelo aroma do creme e fragrância da colónia frutada que usava. À hora marcada, e como combinado, viera bater à sua porta para um primeiro jantar juntos. Convidara-a a entrar e justificara-se com um imponderável de última hora para a fazer aguardar mais uns minutos. A sua curiosidade feminina varreu, com perspicácia, as paredes da sala, as superfícies dos móveis, as prateleiras… ouviam-se melodias de bossa nova. Partira numa viagem relâmpago de suposições quando foi interrompida ‘desculpa fazer-te esperar…’ Aquela voz grave incomodava-a. Sempre se sentira transtornada com aquela tonalidade que parecia trazer pele interior arrancada a cada palavra. ‘Não tem mal…’ respondeu meio atordoada como se a tivessem acabado de acordar, no alvorar duma madrugada. Imperceptivelmente inspirou a olência da colónia que ele usava e impregnava o ambiente. Cambaleou interiormente. ‘Vamos?’; ‘Claro!’, respondeu-lhe. ‘Não vais descalça, pois não?’ Imbuída duma ebriedade que não estava a conseguir controlar, respondeu ruborizando um pouco: ‘Obrigado!...’ Calçou-se e avançou para a porta. Colocou a mão sobre a chave colocada na fechadura e tentou rodá-la… cavalheirescamente quis ser ele a abrir e a mão dele tocou na pele da mão dela… sentiu-se estremecer e as pernas simularam um desfalecimento. Olhou para trás e encontrou o olhar dele. Os lábios dele esboçaram um sorriso enquanto o olhar interrogava-a com a incerteza das estrelas. Tentou… mas não conseguiu desprender o olhar do dele… eram algemas de desejo que os uniam. Rodou a mão e, palma com palma, deixou seus dedos abraçarem a mão dele. Numa pergunta calada disse-lhe um rio de segredos guardados, de fragilidades, de receios… ele entendeu-os como destinos das suas dúvidas. Colocou-lhe a outra mão à volta da cintura e não precisou puxá-la, pois o corpo dela já se imanizara no seu. Os olhares de ambos cegavam-se mutuamente… e os lábios colaram-se numa ternura sôfrega, louca, sem tempo. Os braços enlaçaram os corpos e o desejo abrandeceu qualquer resistência. Suspiros sem ar, misturavam-se com mãos insurrectas em busca de espaços ignotos, ilusões envolvidas em abraços, tacteando desenhos de carícias e novos risos, desassossegados os troncos despiam-se de culpas, os olhos fechados escondiam pensamentos ausentes… e só os corpos sentiram prazer. Desfolhadas as roupas, as bocas passearam pelas peles deixando rastos de perfumes, tatuagens de sentimentos. Gritaram em surdina o nome do outro e o desejo tornou-se efectivo. … e depois do acto, enquanto prazeres mudos calavam as bocas, sobre o soalho tépido da sala repousavam os despojos daquele final de tarde de estio.
[Na era digital, também da fotografia, Ampliações são as minhas revelações de algumas sugestivas imagens de SONJA VALENTINA; são ampliações escritas, obviamente pessoais, dos pormenores com vida registados pela fotógrafa]

1 comentário:

Marta disse...

E o que podem umas calça de ganga, assim, no soalho!!!!

Um tratado de emoções!

Parabéns à dupla :)

2 abraços, com sol