domingo, 19 de julho de 2009

OUTROS

Foto à solta na internet


Na sexta-feira, o ‘Sã João’ estava lotado. Um público extremamente informal e heterogéneo, que ia dos pais aos filhos e dos netos aos avós.

OK! Esqueçamos as limitações vocais que se tornam ainda mãos notórias nas canções que não são as dele. Mas não conseguimos passar indiferentes à entrega, ao quanto ele põe em palco, do seu interior, do seu eu. O espectáculo chama-se Outros, porque Pedro Abrunhosa canta essencialmente canções de outros, mais algumas dum ‘careca do Porto’. Eu diria que não é propriamente um espectáculo. Imaginei-me a entrar no seu quarto num momento em que ele folheava um álbum que não era de fotografias, mas de canções que ouviu na sua infância e na sua adolescência. Como Pedro Abrunhosa é apenas uns meses mais velho do que eu, a maioria dos temas que relembrou são também das minhas infância e adolescência.

Sem ser exaustivo nos autores/cantores interpretados, Abrunhosa recordou nomes como Leonard Cohen, Prince, Art & Garfunkel, Tom Waits, Lou Reed, Bob Dylan, Ray Charles e os portugueses Fausto e… Pedro Abrunhosa.

Diz o intérprete/autor que “Na história das minha música cruzam-se vozes, sombras e ecos de autores que por dentro foram moldando o horizonte dos meus próprios passos. (…) com Outros presto tributo aos que inventaram afectos através do formato ‘canção’. É tão pesada a herança quanto o desafio.”

Relativamente a Pedro Abrunhosa e especialmente aos seus poemas, diria que ele não inventa, antes traduz os afectos que pulsam em mim. Ao ouvir, ao ler, ao cantar, as suas canções, são os meus afectos, ou a sua inexistência, que se escrevem com as palavras que ele inventa.

O concerto são duas horas e meia de entrega, de prazer e de muita, muita realização pessoal, de Pedro Abrunhosa. Acompanhado por cinco fantásticos intérpretes, tenho de destacar, ainda que muito curta, a participação de Edgar Caramelo. Ao longo de todo o concerto, Abrunhosa revela um apurado sentido crítico e de humor. Lê alguns curtos textos de poetas e escritores portugueses contemporâneos. De entre muitos retive umas curtas palavras de Jorge de Sousa Braga, que o próprio Abrunhosa identificou como tendo um título maior do que o poema: “Ao menos | os teus olhos permanecem | verdes todo o ano” sob o título Nos semáforos da Rua de Santa Catarina. Não se coíbe de ser mordaz e pôr em causa a inércia dos governantes; quer os que estão nos ministérios, quer, e sobretudo, os líderes municipais com especial ênfase para Rui Rio.

O espectáculo conta com a projecção de imagens pejadas de sensibilidade, de Augusto Brázio, e dumas interventivas luzes de Nuno Meira. No fundo são diferentes espectáculos, no mesmo evento.

Para colmatar tudo o que narrei, fui um dos contemplados com um aperto de mão quando Pedro Abrunhosa desceu à plateia. Que mais pode ambicionar um fã, que teve o privilégio de ouvir, ao vivo, canções como Ilumina-me, Se eu fosse um dia o teu olhar, Eu não sei quem te perdeu ou Quem me leva os meus fantasmas?

6 comentários:

continuando assim... disse...

tambem queria :( ....

Alexandra disse...

Acompanhou-me com as suas canções e continua a acompanhar-me!!

Gi disse...

Já assisti a suas actuações ao vivo e houve uma vez que ele cantou uma música com os olhos em mim ( não vou entrar aqui em mais alongamentos).
Ultimamente não gosto de o ouvir, nem gosto muito da sua postura. Enfim!

Marta disse...

a minha vez chega na sexta, no theatro circo :)

Tia [Zen] disse...

Ainda bem que gostaste.

Anónimo disse...

gosto muito deste senhor. há já muito tempo que não o vejo, mas é um dos que mais respeito e admiro. gostei de ler este tributo, aqui. um beijo, paços.