
Corria… não para chegar. Antes num regresso. Sem caminho. Como se nunca quisesse ter saído. Seguramente. Sem dever ter partido. O labirinto era um terreno plano, árido, sem paredes, nem obstáculos. Mas é impossível apagar o caminho que já se percorreu. Era esse o desafio. Era essa a impossibilidade. Apagar o que nunca poderia ter sido trilhado.
Dei um salto. Estava escuro. Passei a mão pelo rosto. Estava molhado. E frio. Os olhos ainda estavam fechados. Tentei localizar-me. Procurei o interruptor do candeeiro. Em cima da pequena mesa-de-cabeceira, a luz verde do relógio digital marcava 3:41. Era madrugada. Fora mais um pesadelo. Percebi então. Só mais um. A somar a tantos outros.
Quanto mais tentava, conscientemente, fugir daquela noite, mais percebia o quanto ela pesava no inconsciente. E era sempre em fugas que ela se traduzia. Quanto mais fugia dela e me esforçava por a deixar para trás, mais ela se mostrava uma evasão impossível. Um destino sem saída. Um rumo sem mapa.
O coração abrandara as batidas. Levantei-me. Deambulei até ao lavatório. Molhei o rosto já molhado. Respirei fundo. Engoli um pouco de água. Regressei à cama na expectativa de recuperar o sono. Faltavam pouco menos de três horas para acordar.
4 comentários:
a realidade dos pesadelos
beijo
esse ... o que já se percorreu não podemos apagar , mas podemos sempre construir outros diferentes
bj
teresa
Pesadelos. Quem os não tem. Eu tenho um truque. A seguir a um pesadelo, as páginas de um livro, até voltar a querer dormir, ou até o relógio de digitos vermelhos apontar a alvorada.
A tentação de apagar o passado...
corridas para a frente, fugas impossíveis...
tantos erros, caminhos errantes, ilusões e desilusões, desvios incompreendidos, incompreensiveis, quedas de voos em altura, que na altura souberam a mais, mas mais tarde deixam um sabor amargo...
mais uma noite errada, mais um erro a somar a tantos na procura ansiosa de uma manhã, acordada na certeza de não ter errado...
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