quinta-feira, 15 de outubro de 2009

JANELA INDISCRETA

Foto de Sonja Valentina


Todas as manhãs
há uma janela indiscreta
que me espreita.
Percorrendo caminhos
entre o chegar e o partir,
não a sei mas ela sabe-me.
Na sua indiscrição de janela/mulher
conhece o ritmo
dos passos em que me transporto.
Certifico-lhe a minha existência
na rotina do meu eu
repetindo-me nas horas em que me demoro
e ela me espera.
Na invisibilidade do seu olhar
adivinha o tempo que me falta
conta o que me resta.
Refugia-me a passagem
nos aromas matinais
duma mesa a que não me sento.
Por detrás daquela janela indiscreta
há muitas páginas por abrir…
soubesse eu que existe um livro
por escrever.


Passos com olhares, ao invés de ampliações, são palavras trazidas pela inspiração e posteriormente complementadas pela objectiva do olhar da Sonja.


5 comentários:

elsafer disse...

estas palavras deixam-me sempre suspensa ... com o pensamento nos momentos da memoria

Tia [Zen] disse...

Todos temos uma janela indiscreta na nossa vida...

"Certifico-lhe a minha existência
na rotina do meu eu" Sublime!

Luz disse...

Palavras que nos levam por caminhos desconhecidos ou, quiçá conhecidos e bem dentro de nós.
A janela insdiscreta que nos espreita como se não nos espreitasse, mas consegue sempre ver-nos para além do que nós próprios vemos..., sente-nos o caminhar no caminho que palmilhamos, o olhar no horizonte que avistamos, o tempo que demoramos sem contar..., toca-nos sem nos tocar, abre-se discreta e timidamente como um segredo por nos revelar...

Textos profundos e de uma beleza extraordinária.
Obrigada.

Unknown disse...

Claro que há um livro por escrever, o teu, porque não escreves sobre essa "janela indiscreta".

helenabranco.poet@gmail.com disse...

As janelas do olhar são como as estações e os suspiros; voláteis incontidas A sua indiscrição é apenas um convite para o afecto.

REVEJO a Sonja nesta aqui tão particular!