terça-feira, 7 de abril de 2009

A VELOCIDADE DO TEMPO

Foto de Magda Berny

Há alguns anos atrás, o tempo passava muito devagar. Sem grande precisão, um minuto demoraria uma hora e uma hora, no mínimo, meio-dia. O minuto teria muito mais do que sessenta segundos e, consequentemente, a hora mais do que sessenta minutos e o dia mais do que as simples vinte e quatro horas. Convictamente, o tempo demorava demasiado a passar. Quase tanto tempo quanto um caracol se alongava a atravessar o tampo da mesa. E por falar em convicções…nessa altura não existiam. Ou antes, tinha-las mas sem saber que assim se chamavam as suas certezas. Estava segura de que se saltasse mais alto tocaria nas estrelas, se nadasse mais e melhor chegaria ao reino das sereias, se trabalhasse muito tempo na barra, depois de muitos pliés e battements tendues chegariam as pirouettes e o palco, se sonhasse depressa e acordasse a tempo ainda sentiria os lábios do príncipe a acordá-la.

Assim, de sonho em sonho, de certeza em certeza, o tempo foi passando e adequando-se à sua duração real. Os saltos tornaram-se mesuráveis sempre que conseguiu passar a fasquia no salto em altura, quanto melhor nadou mais se aventurou a entrar no mar e afastar-se de terra, da dança aproveitou o movimento para colocar em muito do que a levou ao palco da vida, onde não recebeu aplausos, mas repetidos reconhecimentos pela sua arte de bem exercer e respeitar a profissão, de cultivar e preservar a amizade, aprendeu a não sonhar depressa mas a estar bem acordada sempre que os lábios desejados se colaram nos seus.

Hoje, o tempo passa demasiado depressa. Uma hora passa num minuto, um dia numa hora e uma semana com a rapidez dum dia. A hora tem escassos minutos… o dia tão poucas horas para conseguir responder ao que lhe é pedido… e a semana afigura-se com poucos dias para conseguir fazer tanto quanto idealiza. O tempo passa tão rapidamente que quase nem se apercebe que os caracóis continuam a alongar-se o mesmo tempo para atravessar o tampo da mesa. Hoje sabe o que são convicções! Mas é quase um sonho tê-las. Tal é a velocidade da vida… que o que hoje é uma certeza, logo em seguida se transforma em dúvida, para daqui a pouco se revelar pura ilusão. Hoje continua a sonhar com o que, em tempos, sonhara poder ser e conseguir fazer… não porque acredite alcançá-lo, mas apenas para na esfera da ilusão poder beber essa sensação de sonhar que a fez crescer. Hoje faz contrabando de palavras. Rouba-as à realidade para as colocar na ficção duma folha de papel. E depois vende-as a quem busca um pouco de felicidade, de alegria, de sonho… mas vende-as baratas… apenas por um sorriso ou por palavras simples que lhe renovem a vontade de procurar novas experiências para traduzir em palavras que volta a colocar no papel e, assim, nunca… nunca fechar o ciclo.

Hoje o tempo corre veloz. Tão rápido que tem de correr atrás dele sempre com a sensação de que nunca mais o conseguirá alcançar. Hoje, o tempo esgota-se a uma velocidade que nem o sonho dos caracóis o consegue alcançar. Sim!... porque os caracóis também sonham… e disseram-lhe que por um dia… durante uma simples hora… ao longo dum exacto minuto, com exactamente sessenta segundos, gostariam de… ser tão rápidos quanto um Ferrari da Fórmula 1.

1 comentário:

Marta disse...

Quem nunca se deteve nesta questão?

O tempo a passar na infância. Devagar. Incrivelmente de vagar. Com tempo para saborear tudo. Com vagar para tudo. Com espaço/tempo para sentir absolutamete tudo.

Não é assim agora!
Daqui a pouco é Natal!