sexta-feira, 10 de abril de 2009

PRAZERES SONHADOS

Foto de John Parminter

Fecho os olhos e, num abraço de dúvida, deixo-me levar, guiado por asas dum rio a desbravar, até ao reino da fantasia onde o soberano padece duma enfermidade irrecuperável a que os doidos chamam de sensatez. Fecho os olhos e oiço as palavras que escreveste mas não chegaste a ler. Enquanto, a passos tímidos, a certeza ganha terreno à dúvida encostas tua cabeça no meu ombro como o sol rompe a escuridão da madrugada, mais por necessidade do que por dever. O meu coração descansa sobre uma aceleração irrecuperável e poisas teus dedos sobre a minha mão forçando intervalos onde penetram demandando um enleio aguardado. Sem que haja força para suster o ímpeto do que é desejado, meus lábios pousam na tua pele arrefecida pela longa espera calada. Cegos percorrem a direcção que os levará a encontrar a macieza sonhada dos teus. São torrões de adulação que os espera na humidade que lhes ofereces quando os deixamos colarem-se e perderem-se em carícias arrebatáveis. Explorando as mais susceptíveis conjugações do prazer, a minha pele é percorrida pela disquisição incessante da tua língua por um novo instante onde recomeçar a devolução do sentido às mãos, entretanto, perdidas em areais de carícias onde rebentam ininterruptas ondas de paixão. Mantenho os olhos fechados pois continuas a ler as palavras que não me ofereceras, a madrugada está prestes a partir e quando o sol trilhar o caminho dum novo dia, os loucos rir-se-ão da insensatez de entrar no reino do devaneio onde o soberano, impondo os sintomas da sua doença, irá gritar a verdade aos que teimam invadir o seu território em demanda da felicidade que se desfaz na dissolução dum sonho.

1 comentário:

Alexandra disse...

Quando pensamos no que perdemos, no que se desfez sem que dessemos conta de como, nem porquê...quando perguntamos a nós mesmos o que se passou e não encontramos resposta, quando sentimos o vazio a erguer-se frio e implacável...se não fôr o sonho que será de nós?!

Todos conhecemos a frase: "o sonho comanda a vida"... por vezes, é necessário acreditarmos nessas palavras, custe o que custar.

Uma boa Páscoa se lhe fôr possível e lhe fizer sentido!