terça-feira, 14 de abril de 2009

CONVERSA COM SÉRGIO GODINHO


Foi ontem, ao final da tarde, que ele se dispôs a conversar sobre os livros que lê, ou que já leu e quis deixar como sugestão. Talvez como alguns outros dos que lá estavam presentes, fui porque o respeito, porque o admiro, porque é um escritor de canções cujas obras me arrastam desde a adolescência. Porque essas suas oferendas se mantêm actuais, sempre aprazíveis de serem ouvidas, mesmo quando algumas já rondarão as três décadas de existência.

Em conversa com Inês Pedrosa, que confessou dever-lhe a sua inclusão pelo universo de Milan Kundera, Sérgio Godinho falou sobre a forma como os filmes podem ser redutores da obra literária em que se basearam, e como isso também acontece quando um videoclipe dá um olhar muito exacto a uma canção. Falou da fronteira, se é que existe, entre o poema e a letra de canção. Disse que 90% das suas canções começam pela melodia e que, talvez por isso, se torna quase impossível dissociar a letra da música. Mas, digo eu, o que são as letras das suas canções que não poemas? O que são A Noite passada, Com um brilhozinho nos olhos, Às vezes o amor, 2º andar direito, Espalhem a notícia, Lisboa que amanhece, Romance de um dia na EstradaSenhora de Preto, e… tantas outras? Serão muitos os outros que também assim pensam. Inês Ramos será uma delas pois incluiu na sua antologia Os Dias de Amor o poema [que também é canção] A certeza do meu mais brilhante amor de Sérgio Godinho. E foi desse livro que ele falou sobre um poema [que recitou] de Joana da Gama. Confessou não se considerar um verdadeiro leitor mas ‘quando viajo ando com um livro debaixo do braço’. Ele que é um homem do Norte, ao passar para os livros de contos, referenciou Flannery O’Connor, autora de Um homem bom é difícil de encontrar, como uma profunda conhecedora dos valores dos sulistas norte-americanos e citou-a na ilustração dum confronto que abrange muitos países: ‘tudo é grotesco se for lido pelos do Norte, a menos que seja grotesco, pois nesse caso será realista’. Admitiu ser muito influenciado, nas suas escolhas de obras a ler, pelas recomendações das contra-capas. Disse ter sido por ‘culpa’ de Inês Pedrosa que leu As velas ardem até ao fim , de Sándor Márai. Um livro que avaliou como um ‘tratado de amizade sobre as profundidades da alma humana’. Revelou ter poemas, que não letras de canções, prontos para serem editados em livro. E quando lhe perguntaram se colocaria Ary dos Santos no ‘top 5’ dos letristas nacionais, respondeu com frontalidade considerá-lo como incontornável na poesia portuguesa, que terá tido uma capacidade única de se adaptar aos requisitos de fazedor de canções, mas que não gostava de um certo estilo de palavras que o Ary escreveu. Para quem, como eu, gosta muito deste último, foi extremamente gratificante ouvir outra pessoa que admiro ser frontal e verdadeiro assim. É em sua honra que hoje aqui deixo alguns, apenas alguns dos seus poemas superiormente musicados e cantados pelo próprio.

Obrigado Sérgio, por seres quem és!

2 comentários:

Marta disse...

...com uma muito feia pontinha de inveja!
Inês Pedrosa e Sérgio Godinho em amena cavaqueira sobre livros!
há dias mesmo felizes!

obrigada por esta partilha! mesmo.

jardinsdeLaura disse...

Foi bom, muito bom mas tive que ler numa pressinha porque vou ter de sair, mas fiquei muito contente e voltarei logo que possa!
Obrigado por este bocadinho!