quarta-feira, 8 de abril de 2009

RUAS DA MINHA CIDADE

Foto recolhida aqui

As ruas estão cheias de gente que deixou as suas cidades para vir beber o sol da minha cidade. Gentes que olham os prédios e mergulham o olhar nos mapas. Gentes com máquinas fotográficas que registam momentos da minha cidade. Olhos forasteiros que prendem os olhares da minha cidade. Pés alheios às pedras que pisam, em busca de histórias de vida dos que diariamente nelas deixam marcas inapagáveis. Gentes que enchem as ruas da minha cidade, passantes que correm nas artérias onde deixo meu coração. As ruas da minha cidade estão cheias e enchem-me de saudade de partir em busca de outra cidade onde seja eu o forasteiro. Nas ruas da minha cidade passeiam turistas que me enchem de desejo de partir em busca do cheiro de outras cidades para lhes espreitar instantes do quotidiano, de recortar-lhes, em enquadramentos furtados, retalhos doutras vidas que não me pertencem mas nas quais me intrometo por um instante, tirar-lhes um pedaço do seu dia para lhes oferecer um pedaço de mim nas memórias que me vão deixar. São inúmeros os aromas de idiomas que adoçam as ruas da minha cidade. São muitas as mãos dadas, os olhares juntos, os abraços partilhados, os passos em uníssono, nos chãos da minha cidade. São muitos os instantes de sonho que adivinho em rostos de prazer, em olhares de ternura, em gestos de carinho. O calor da minha cidade toca-lhes na pele e entra-lhes na alma. Pedaços do meu deleite que as ruas da minha cidade lhes oferece. Nas ruas da minha cidade passeio meus passos solitários, vagueio meu olhar perdido e perco-me sozinho no meio das gentes que enchem as ruas da minha cidade… à espera que ela se dilua… à espera de encontrar um olhar… e partir.

5 comentários:

Marta disse...

as ruas das nossas cidades [principalmente as da cidade mais linda do mundo :)]
sabemo-las de cor! por isso, nos dizem tantas coisas!
sempre inspiadoras!

Alexandra disse...

Podiam ser minhas estas palavras...o sentimento está cá todo!

Adorei!

Alexandra

Milouska disse...

A "minha" cidade é única, sempre no coração e por isso é inspiradora.
Um beijo,

Milouska

sonja valentina disse...

... e como é bom misturarmo-nos com eles e sentirmo-nos forasteiros na nossa própria cidade. quantas vezes vimos e sentimos de outro modo através dos seus olhares...

Marina Luz disse...

Qaundo vi este post lembrei-me deste poema lindo que gosto particularmente quando cantado pelo Carlos Mendes

RUAS DE LISBOA

Ruas da minha cidade
veias que o meu sangue abraça
e põe cravos de ansiedade
na lapela de quem passa.

Ruas da minha cidade
onde perco o coração.
Poema diz a verdade!
Diz a verdade canção!

Ruas da minha cidade
amanhecendo a firmeza
duma ponte entre a saudade
e um Abril à portuguesa.

Ruas da minha cidade
onde vingo as minhas asas.
O meu nome é liberdade
e moro em todas as casas.

Ruas da minha cidade
praças da minha alegria
onde antes da claridade
era noite todo o dia.

Ruas da minha cidade
onde o velho é sempre novo:
as ruas não têm idade
porque são todas do povo.

Ruas da minha cidade
becos de ganga puída.
Oficinas da verdade
dos operários desta vida.

Ruas da minha cidade
janelas do meu olhar
onde os pardais da amizade
à tarde vêm poisar.

Ruas da minha cidade
rasgadas por minha mão.
A gente passa à vontade
quando pisa o nosso chão.

Ruas da minha cidade
Aonde eu quero morrer
Com cravos de eternidade
Dos meus olhos a nascer.

É um poema de Joaquim Pessoa