quarta-feira, 29 de abril de 2009

E SE NÃO HOUVER AMANHÃ?


Foto de Philip LePage

Desceu à rua e entrou no cinzento da manhã. Aconchegou a gola do casaco para enfrentar o vento frio que auxiliava o acordar. Entrou no café. Sem pensar procurou uma mesa vazia. Ao sábado era mais fácil consegui-las, mais ainda se o pequeno-almoço chegasse a hora já retardada. ‘Bom-dia Sr. Gaspar! Traga-me um chá e um Pão de Deus só com manteiga. Obrigada.’ Olhou para a rua, através da vidraça, como se lá fora fosse passar um documentário sobre o que fazer num sábado adverso ao sol. Pegou num jornal pousado numa das mesas próximas e folheou a área de lazer. Sabia os filmes em cartaz e aqueles que desejava ir ver, mas mesmo assim confirmou se não haveria alguma estreia que lhe tivesse passado despercebida. A leitura de algumas linhas do jornal, acompanharam o pequeno-almoço entretanto deixado sobre a mesa. ‘Sr. Gaspar, um café por favor.’ Dois minutos depois, o Sr. Gaspar deixou-lhe o café e ‘Menina, já me esquecia, pediram para lhe entregar este envelope…’ ‘A mim, Sr. Gaspar? Mas quem foi? Não tem o meu nome… como sabe que é para mim? Que estranho!... Só pode ser uma brincadeira…’ ‘Não, menina, é para si, sim senhor! Hoje, ainda cedinho, um senhor muito delicadamente pediu para que lhe entregasse e descreveu muito bem a menina, sabia onde morava, que aqui costumava vir todas as manhãs… não tenho dúvida! É mesmo para a menina!’ Decidiu abrir o envelope. Dentro, uma folha branca com apenas três linhas soltas perdidas no vazio da página. Estremeceu, quando leu algo que já pensara ter esquecido ‘Porque o vento me trouxe o seu olhar o tempo parou em meu pensamento a esse hiato de vida vejo regressar…’

Antecedente:
I II

2 comentários:

Patti disse...

Onde é que fica mesmo esse café do Sr. Gaspar?
Sábados de manhã, não é?

Inspirador.

jardinsdeLaura disse...

Pas(ç)sos,

Não pode imaginar o quanto este seu texto me deixou intrigada!! E o pior é que nem sequer me sinto no direito de esclarecer esta dúvida que tanto me atormenta!
Por favor não pare NUNCA de escrever! Voltarei sempre.