sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

DE FORA PARA DENTRO

Foto © Rike B.


… no telhado, uma pequena janela triangular marca a fronteira entre o céu e aquele pedaço de espaço que se acrescenta ao esconso do tecto; por ela entra o banho da lua, nas noites em que está cheia, e penetram os raios de luz. Fragmentos de tempo polvilham as paredes do sítio sem género. Nos sulcos do sofá, testemunhas de inolvidáveis segredos, abandonam-se livros de páginas despojadas obsessivamente lidas até ao desprezo; nas paredes pendem, adormecidas, fotografias coloridas pela sépia da lentidão, retalhos arrancados, à força, a memórias instantâneas; um relógio marca a hora que não passou… sobre a mesa, uma máquina de escrever desgastada guarda, nas teclas, o peso de palavras que lhe foram arrancadas com paixão, com angústia, com raiva, com ternura… a seu lado uma chávena esquecida retém o líquido em migalhas do sabor que já perdeu e folhas de papel sobrepõem-se… escritas a lápis, repetida e infinitamente riscadas, nunca apagadas, as mesmas palavras… em cima de todas elas, as mesmas palavras por riscar: Quando te leio, esqueço as palavras…