Há um ano atrás escrevi e publiquei Maturidade. Assim nascia o blog Paços d'Água. Lamentos impossíveis de conter, derramados na procura de serenidade. Palavras que mais não pretendiam do que expressar um doer, um pensar, um sentir. Passos que se foram sucedendo com a luminosidade dos dias.
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
UM ANO DEPOIS
Há um ano atrás escrevi e publiquei Maturidade. Assim nascia o blog Paços d'Água. Lamentos impossíveis de conter, derramados na procura de serenidade. Palavras que mais não pretendiam do que expressar um doer, um pensar, um sentir. Passos que se foram sucedendo com a luminosidade dos dias.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
AFINAL AINDA HÁ VIDA
Afinal ainda há vida
na velocidade de pensamentos viajantes
aterrando em hangares de memórias
escritas sem narração.
Afinal ainda há vida
abrindo janelas no peito
de braços aguardadores.
no cristal dum olhar que brilha
revelando palavras incapazes
do coração falar.
no tactear dos dedos pela pele
segredando sabores secretos
de desejos ardentes.
na mão aberta e estendida
para a luz gritante da alma afirmativa:
‘Hoje começa o amanhã!’
sábado, 16 de janeiro de 2010
NO SILÊNCIO DO MUNDO

© cm
No silêncio do mundo
sussurra um eco de sonoridades
fugitivas duma partitura
de que a natureza guarda
o segredo da composição.
Abre-se o infinito do céu
sobre um espelho tranquilo
onde a natureza mergulha
na segurança de permanecer
à superfície das águas.
Descobre-se nas margens dum olhar
a fronteira que delimita a felicidade.
Caminham-se passos novos
nas memórias desejosas de reviver.
Abrem-se na claridade dum novo dia
sonhos arremessados que não submergem,
atraídos pelo sabor dum abraço,
preso ao coro dos sentires
que se dissolve no espelho do mundo.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
CINZAS E SANGUE

A fotografia rapta-nos a sensibilidade. Ambiências, cores, enquadramentos, paisagens são espreitares por onde caminhamos ao encontro da fantasia que Fanny Ardant nos oferece como realidade. Na intemporalidade duma época viajamos pela sugestão de localizações, pequeno pormenor de quem quererá demonstrar que a indomabilidade duma vida é comunhão sem origem, nação ou tempo.
Há partidas que mais não são do que fugas. Convencimentos forjados de reconstrução como se fosse possível rasgar as páginas de história que não quisemos ou nos arrependemos de escrever. Calam-se segredos na negação de saber que os poluentes persistentemente se mantêm à tona das águas. E recusam-se regressos inevitáveis.
Porém, quando o sangue chama não há como enganar a realidade. Impõe-se condições. Estabelecem-se regras. Tenta-se esquecer a verdade. Mas não há como ignorar a irreverência herdada, o orgulho que é mais forte do que a razão. Os pactos que nunca chegaram a ser ensinados sobrevêm nos laços familiares. E não se consegue evitar a colheita semeada.
No desespero corre-se na ilusão de que a vontade transformará o percurso do futuro por acontecer. Cede-se um flanco na ansiedade de defesa de outro. E a simplicidade da vida limita-se a demonstrar que acabaremos, inevitavelmente, por ser réus sentados na cadeira onde Alguém nos julgará e condenará a cinzas o que abraçáramos como esperança.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
NO FOGO DA NOITE

Antes que as velas apaguem o seu lamento
e a noite desça sobre a escadaria
onde amantes se despem de segredos,
as palavras desembainham gumes de mel
por entre a saliva ardente das bocas.
Antes que a cegueira desbrave
as planícies de juízo ceifado
onde os corpos se voluntariam em batalha,
os olhares resistem ao esgazeamento
em que o desejo lapida a memória.
Antes que as roupas se despeçam
dos corpos caídos sobre o leito
entregues à aventura do fogo,
os dedos namoram esconderijos da pele
estancando-se em açudes de prazer.
E só quando as bocas se mordem,
as mãos se beliscam ofegantes
e as línguas se amarram apaixonadas,
os corpos se condenam à possessão
em ritmo incendiado de rendição.
Sobejam então no ocaso
abraços cativos de carícias,
extinguem-se cinzas de ternura
em beijos acesos na devolução
dum momento incandescente
madrugando no amanhã.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
PONTE PARA O PRESENTE

Ouço-te a cada sorriso
que na pele se arrepia,
Provo-te no rasto dos beijos
que a saudade lavra,
Cheiro-te em cada vácuo
demorado no virar da página,
Vejo-te no branco do lençol
onde a noite se veste de solidão,
Sinto-te em cada afago
por que o coração suspira.
Faço-te dona do tempo,
habitante dos dias.
Sangras nas minhas veias
a sofreguidão do hoje.
Bebo-te em tragos de desejo
cada albufeira de ausência.
Construo em pilares de palavras
uma ponte que atravesso
na procura dum abraço
que eternize o presente!
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
QUANDO A MEMÓRIA SORRI

A noite fechava-se sobre aquela sexta-feira aziaga de Março. A Primavera anunciada fora, nesse dia, ultrapassada por um final inesperado. Torceram-se num nó as horas daquele dia. E esse laço involuntariamente apertado, ainda hoje se lhe ata na garganta quando revê as memórias cujo perfume se liberta do interior do peito e lhe arrepia a pele.
Uma viagem que se tornara obrigatória, parecia ir separá-los mais do que a distância geográfica já o fazia. A proximidade que os unia compulsava-se em trocas sucessivas como duas mãos agarradas recusando o afastamento. Pedaços que se ofereciam com a certeza de saciar uma sede que nascida na boca de cada um só desaguava na do outro. Ilusões irracionais de quem se entrega na emoção. Sob uma seara árida de sorrisos semeavam ‘gostares’ que se reproduziam em afinidades tornadas inquestionáveis.
Entre as permutas que pareciam querer segurar o que o inevitável iria apartar, chegaram-lhe aquelas palavras, às quais no imediato até nem deu suficiente atenção. Mas quando as leu, releu-as. Entrou com surpresa e sem que desse por isso, o deslumbre apossara-se da leitura. Vestiu as palavras como se da própria pele se tratassem. Como se alguma vez aquela membrana lhe tivesse sido retirada e naquele dia chegara a oportunidade de a recuperar. Teve a certeza de que naquela noite o nó não poderia ser desapertado. Pelo contrário, os laços haviam se estreitado. A convicção era um abraço e sabia que naquela noite iria dormir tão feliz que nem conseguiria fechar os olhos. A resposta chegou-lhe no anúncio de que existem pessoas a quem não é preciso chamar de nada para sempre terem sido e continuarem a ser especiais.
Como numa estação onde os comboios chegam, partem e apenas permanecem por um tempo sempre com término, assim os meses se sucederam. A Primavera anunciada acabaria por chegar. Sucedeu-se-lhe o Verão. O Outono caiu em folhas. E o Inverno trouxe temperaturas gélidas alternadas com dilúvios prolongados e inusitados. Foi num desses dias que o sol se descobriu quando com surpresa encontrou, num mapa desdobrado para o mundo, aquelas estradas que só os dois haviam percorrido na já distante noite de Março. Foi nesse dia que recuperou um bálsamo que lhe aquecera o coração. Sentiu a pele sorrir. E teve a confiança que mesmo mostrados ao universo há percursos cujo significado só serão entendíveis por quem os percorreu.
Encostou-se no cadeirão do tempo. Cruzou as mãos, cerrou as pálpebras e voou na escrita. Não tinha dúvidas de que só o sentimento poderia ler interpretações a dois. Nesse momento recuperou o sabor do sonho e sussurrou Eu adoro voar!
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
"A MALTA HABITUA-SE"...

Quando se nasce cada sinal é uma aprendizagem. Bebe-se cada instrução com a avidez de quem precisa de assimilar a vida. Cada necessidade, cada descoberta, cada regra é um hábito que se adquire para percorrer as ruas da vida. Crescemos e multiplicam-se os cruzamentos que tornamos hábitos. “A malta habitua-se” ao que se quer, ao que se tem de querer e até ao que se preferia não ter. Luta-se por muito, recebe-se muito, conquista-se muito… mas a tudo nos habituamos. Até às perdas… até quando nos roubam quimeras, bens ou mesmo alguns dos que mais amamos, “a malta habitua-se”. Seja com dor, seja com a alegria “a malta habitua-se” ao caminho que a vida nos traça. Habituamo-nos à vida. E tornamo-nos tal animal de hábitos que nos esquecemos de parar, de olhar e de desejar. Esquecemo-nos de viver. Pode ser tão grave que nos esqueçamos de sonhar! “A malta habitua-se” a prescindir de sonhar. Desabituamo-nos da conjugação do sonhar, do lutar, do fazer por conseguir. E deixamos de crescer. Habituamo-nos a sobreviver. Quantas vezes acordamos já demasiado tarde? Mas… não faz mal… “a malta habitua-se”…
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
NUM [TEU] ABRAÇO

Num abraço
semeiam-se carícias
escorridas por entre os dedos
abertos no desapertar das mãos…
germina ternura
fluida através de sonhos
que as bocas não ousam revelar…
seca a ansiedade
mascada em horas de demora
desguarnecidas por carências suspensas…
amadurecem beijos
de lábios abertos na avidez
das bocas molhadas no calor da entrega…
colhem-se certezas
de gestos em corpos falantes
que não se apartam para segurar o tempo…
No teu abraço
começa a Primavera
dum coração derretendo de ardor veraneante
em busca do repouso nas tardes outonais
que antecipam a lareira do teu peito onde me alojo.
No nosso abraço
a inquietude adormece em pousio
e o gelo nevado da saudade
é escondido no celeiro da letargia.
sábado, 2 de janeiro de 2010
DEIXA-ME...

Deixa-me adivinhar,
deixa-me fantasiar!
Deixa-me voar no teu sonho,
deixa-me sonhar nas tuas asas!
Deixa-me cruzar o céu da ilusão,
deixa-me acreditar que sou o teu destino!
Deixa-me planar sobre o mar,
deixa-me sentir nas ondas os teus abraços!
Deixa-me ser o vento que te canta,
deixa-me despentear-te os pensamentos!
Deixa-me desarrumar-te as horas,
deixa-me olhar-te o tempo!
Deixa-me sossegar no teu sono,
deixa-me acordar no teu regaço!
Vá lá… não digas nada,
mas deixa que leia as tuas palavras, como minhas!
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
SE A TUA VIDA É UM RIO

Se a tua vida é um rio
deixa que os dias sejam água a correr
eu estarei na margem do tempo
pronto a embarcar
na corrente que me queiras abrir.
Serei casco de navio
flutuando nas enseadas do teu percurso,
vivendo a intensidade dos teus rápidos,
experimentando as temperaturas da paixão,
gelando nos icebergues dos refúgios.
Serei treliças de ponte
suportando abraços de saudade nos encontros,
abrindo passos de sorrisos nas lágrimas,
resguardando a presença na solidão.
Serei várzea fertilizável
pelas carícias semeadas
em sulcos de olhares embriagados,
regados pela humidade dos beijos
na entrega do amor ao desejo.
E quando chegares à foz,
serei oceano pronto para te acolher
porque em mim quero sentir a seiva
bombeada em suspiros ofegados
que te alimentam a vida.