As palavras provocaram imagens
Palavras com objectiva
um convite para se deixar levar por trabalhos que só ambicionam proporcionar novas viagens…
As marcas deixadas pelos passos percorridos na edificação dos Paços duma vida
© cm
No silêncio do mundo
sussurra um eco de sonoridades
fugitivas duma partitura
de que a natureza guarda
o segredo da composição.
Abre-se o infinito do céu
sobre um espelho tranquilo
onde a natureza mergulha
na segurança de permanecer
à superfície das águas.
Descobre-se nas margens dum olhar
a fronteira que delimita a felicidade.
Caminham-se passos novos
nas memórias desejosas de reviver.
Abrem-se na claridade dum novo dia
sonhos arremessados que não submergem,
atraídos pelo sabor dum abraço,
preso ao coro dos sentires
que se dissolve no espelho do mundo.
A fotografia rapta-nos a sensibilidade. Ambiências, cores, enquadramentos, paisagens são espreitares por onde caminhamos ao encontro da fantasia que Fanny Ardant nos oferece como realidade. Na intemporalidade duma época viajamos pela sugestão de localizações, pequeno pormenor de quem quererá demonstrar que a indomabilidade duma vida é comunhão sem origem, nação ou tempo.
Há partidas que mais não são do que fugas. Convencimentos forjados de reconstrução como se fosse possível rasgar as páginas de história que não quisemos ou nos arrependemos de escrever. Calam-se segredos na negação de saber que os poluentes persistentemente se mantêm à tona das águas. E recusam-se regressos inevitáveis.
Porém, quando o sangue chama não há como enganar a realidade. Impõe-se condições. Estabelecem-se regras. Tenta-se esquecer a verdade. Mas não há como ignorar a irreverência herdada, o orgulho que é mais forte do que a razão. Os pactos que nunca chegaram a ser ensinados sobrevêm nos laços familiares. E não se consegue evitar a colheita semeada.
No desespero corre-se na ilusão de que a vontade transformará o percurso do futuro por acontecer. Cede-se um flanco na ansiedade de defesa de outro. E a simplicidade da vida limita-se a demonstrar que acabaremos, inevitavelmente, por ser réus sentados na cadeira onde Alguém nos julgará e condenará a cinzas o que abraçáramos como esperança.
Antes que as velas apaguem o seu lamento
e a noite desça sobre a escadaria
onde amantes se despem de segredos,
as palavras desembainham gumes de mel
por entre a saliva ardente das bocas.
Antes que a cegueira desbrave
as planícies de juízo ceifado
onde os corpos se voluntariam em batalha,
os olhares resistem ao esgazeamento
em que o desejo lapida a memória.
Antes que as roupas se despeçam
dos corpos caídos sobre o leito
entregues à aventura do fogo,
os dedos namoram esconderijos da pele
estancando-se em açudes de prazer.
E só quando as bocas se mordem,
as mãos se beliscam ofegantes
e as línguas se amarram apaixonadas,
os corpos se condenam à possessão
em ritmo incendiado de rendição.
Sobejam então no ocaso
abraços cativos de carícias,
extinguem-se cinzas de ternura
em beijos acesos na devolução
dum momento incandescente
madrugando no amanhã.
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