sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

CINZAS E SANGUE

Imagem recolhida aqui


A fotografia rapta-nos a sensibilidade. Ambiências, cores, enquadramentos, paisagens são espreitares por onde caminhamos ao encontro da fantasia que Fanny Ardant nos oferece como realidade. Na intemporalidade duma época viajamos pela sugestão de localizações, pequeno pormenor de quem quererá demonstrar que a indomabilidade duma vida é comunhão sem origem, nação ou tempo.

Há partidas que mais não são do que fugas. Convencimentos forjados de reconstrução como se fosse possível rasgar as páginas de história que não quisemos ou nos arrependemos de escrever. Calam-se segredos na negação de saber que os poluentes persistentemente se mantêm à tona das águas. E recusam-se regressos inevitáveis.

Porém, quando o sangue chama não há como enganar a realidade. Impõe-se condições. Estabelecem-se regras. Tenta-se esquecer a verdade. Mas não há como ignorar a irreverência herdada, o orgulho que é mais forte do que a razão. Os pactos que nunca chegaram a ser ensinados sobrevêm nos laços familiares. E não se consegue evitar a colheita semeada.

No desespero corre-se na ilusão de que a vontade transformará o percurso do futuro por acontecer. Cede-se um flanco na ansiedade de defesa de outro. E a simplicidade da vida limita-se a demonstrar que acabaremos, inevitavelmente, por ser réus sentados na cadeira onde Alguém nos julgará e condenará a cinzas o que abraçáramos como esperança.


2 comentários:

Anónimo disse...

Ser réu. Uma herança judaico-cristã.
Tenho muito que ler por aqui...

AnaMar (pseudónimo) disse...

As (minhas) partidas são recomeços.
Fugas ensaiadas.
Encontrei-me aqui. Novamente.
Há tanto tempo que não te lia...